Todo mundo conhece o DJ Zé Pedro. Até mesmo quem não é tão ligado assim em música brasileira, sabe quem é aquele moço que, volta e meia, surge com chapéus loucos e coloridos, e disfarça (ou seria realça?) grandes olhos com um óculos wayfarer – de lentes transparentes – à frente de pick-ups e remixes de clássicos brazucas.

A mistura parece uma marca registrada deste gaúcho criado no Rio e radicado em São Paulo, que tem uma trajetória marcada principalmente por transformar canções que, antes dele, seriam impensáveis de serem lançadas às pistas. Zé Pedro coloca mesmo todo mundo pra dançar.

Mas hoje, este mesmo Zé Pedro me colocou pra pensar.

Durante minha navegação matinal e obrigatória, já não lembro mais porque cargas d’água fui parar em sua página no Twitter. E, de lá para o seu blog, foi um pulo (digo, um clique). Resultado: passei as últimas duas horas devorando seus posts, imerso entre resenhas, ideias, pensamentos, memórias, crônicas e outras declarações de amor, principalmente às musas da MPB.

Entre os primeiros textos, fiquei apaixonado por seu relato de uma noite romântica vivida no restaurante do Terraço Itália. E descobri que, do alto daquela visão fabulosa da cidade de São Paulo, vista do 41º andar, Chico Buarque e o MPB-4 fizeram o show da virada do Rèveillon de 1967, aquele mesmo ano do Festival que mudou tudo na MPB – e que ele comenta em outro post, sobre o elogiado documentário de Renato Terra e Ricardo Calil.

Cinema, teatro, literatura, redes sociais, moda… tudo vira música no texto de Zé Pedro. Não importa qual seja a pauta: ele irá encaixar em qualquer tema uma frase, uma lembrança, uma referência pessoal, seja do que toca hoje em seu ipod, seja de uma Copacabana que não existe mais: a da sua infância, vivida nos anos 70 e 80. Em todas, a trilha e o figurino são compostos por um clássico de Nana, Alcione, Marina, Célia, Lucina, Marisa, Vanessa ou Vanusa – ela mesmo, a diva loira que, recentemente, foi execrada em território virtual. Ou até mesmo Rita, a quem ele ele se declara “andar jururu” e ter saudades do tempo em que inéditas eram mais frequentes.

Pela minha leitura descobri que, por baixo daquele chapéu, também bate um coração. Um coração e uma mente que, em um outro post, debruçou-se sobre a obra pop de Lulu Santos e percebeu que, debaixo daquelas batidas, também habita um poeta. E é do blog do Zé (olha a intimidade) que eu tomo a liberdade de fazer um copiar e colar emocional de sua página para cá, com as frases pinçadas de canções de Lulu que a gente canta dançando – ou dança cantando – imersos na música, sem prestar atenção na letra. Confesso que, neste post – intitulado “Toda forma de amor” – eu fiquei realmente “chapado”: à exceção de Assim caminha a humanidade que, apesar de super agitada, esconde uma letra triste, nunca tinha conseguido pensar em nenhuma outra composição de Lulu Santos com este olhar.

Ele diz:

(…) Lulu sempre arrastou multidões aos seus espetáculos que são transformados em grandes karaokês tamanha a força do coro popular entoando todo o seu repertório do início ao fim. Mas a minha sensação é de que ninguém repara no brilho de suas letras. Ninguém aprecia com a devida atenção seu jogo de palavras misturando humor, inteligência , sutileza numa mistura fina e exata que o coloca sim entre os principais compositores desse país.

Indignado e louco para confirmar essa minha tese juntei um grupo de amigos e li para eles algumas frases retiradas de alguns sucessos de sua carreira. Eu estava certo: ninguém havia prestado atenção nas frases cantadas desde sempre por todos. Ficaram pensativos e com um remorso no olhar. Missão cumprida.

Agora parto para a segunda etapa e repasso aqui, para você que me lê, algumas dessas frases que confirmam o que eu disse até agora. Veja quantas letras você havia reparado que eram geniais e quantas estavam no seu inconsciente sem a devida atenção. Boa viagem.

“O amor devia ser proibido porque é uma droga pesada, e se a pessoa tá viciada ela faz qualquer coisa por um papel de afeto”
“Não há lógica que faça desandar o que o acaso decidir”
“Mesmo após um dia intenso não devemos desencostar. Vá que por acaso falte o equilibrio ?”
“Imagino que no futuro as pessoas vão ler sobre nós e vão se admirar do jeito que a gente arrumou prá não deixar de se amar”
“Eu não sei viver sem ter carinho. Eu não sei viver triste e sozinho. É a minha condição”
“Queria que tu tivesses ciúmes de mim, queria te ver armar uma cena, quebrando coisas e dizendo aqui ninguém tasca é propriedade particular”
“É duro evitar o chavão quando se vive um”
“Já faz um tempo e eu me esqueci o que era mesmo que eu te prometi: se foi compromisso e compreensão ou luxo e paixão”
“Eu subo na corda bamba sem rede de proteção que é pra fazer climinha e chamar a atenção”
“Será possivel que calar a boca é o que vai sobrar para nós aqui ?”
“Eu fiz um teste pra uma fita com um elenco de dois. Na hora de rodar a produção sequer telefonou pra me explicar que resolveram me limar”
“Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder, como uma idéia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer”
“O nosso amor não consta em livros, está fora do padrão. Não é ponta de estoque em liquidação”
“Quero mais nada que me lembre o tempo que perdi com perdas de tempo como você”
“Fui teu principe e teu sapo. Fui teu gato, fui teu cão. E gostei”
“Não consigo dominar seu interesse. Já fiz de tudo que estivesse ao meu alcance. Meus poderes não funcionam em você”
“Bem que eu achei que era artificial. Bem que eu notei que as balas eram de festim. Ainda assim me machucou. Mas não faz mal. Nada é só ruim”
“Eu tenho andado bolado com o jeito que a vida está. Um filme ruim em canal e hora que ninguém vê”
“Não vai me surpreender quando a ciência revelar que numa vida a dois somente a dor se iguala à alegria”.

Salve Zé Pedro, sua musicalidade, e também sua inteligência, irreverência e sensibilidade. Que você continue – como diz aquela outra pérola brasileira – cheio de graça, fazendo a gente feliz. Seja na pista, seja na leitura.

Um abraço do teu fã (na música) e do teu mais novo fã (nas palavras).

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