Para começar a relembrar este disco de Ivan Lins, é preciso uma pequena volta no tempo, um pouco antes de seu lançamento. Em 1985, a novela “Roque Santeiro” era o maior sucesso da TV brasileira. Censurada em 1975, a trama de Dias Gomes voltaria dez anos depois, tendo nos papéis principais Regina Duarte, como a inesquecível Viúva Porcina, e Lima Duarte, como Sinhozinho Malta, dono de um famoso bordão: “Tô certo ou tô errado?”. Segundo o Ibope, no capítulo 143, a audiência chegou a 98 pontos.

O sucesso da novela se refletia na trilha sonora. Em três meses, o LP Roque Santeiro Nacional teve 500.000 cópias vendidas, fazendo com que a gravadora Som Livre deixasse de lado o disco internacional. Pela primeira vez, uma novela da Rede Globo teve um “volume 2” de sua trilha nacional.

Na época, Ivan Lins estava sem gravadora. Entre 1984 e 85, a Polygram dispensara parte de seu elenco e, apesar de Ivan ter feito um disco irrepreensível (Juntos – em que ele revisitava seus grandes sucessos com nomes da música nacional e internacional, como Tim Maia, Djavan e George Benson, entre outros), ele estava sem contrato.

No final de 1985, chegava as lojas o “Volume 2” de “Roque Santeiro”. O LP tinha, como um de seus destaques, uma nova canção de Ivan que, com o passar dos anos, se tornaria um de seus clássicos: Vitoriosa. A música, composta com Vitor Martins, foi o pontapé inicial para o LP Ivan Lins, lançado pela Som Livre no início de 1986.

Com dez faixas, o disco reunia novas composições da dupla Ivan & Vitor, parceria festejada no encarte do LP, com uma foto dos dois, junto a outros agradecimentos, em especial à Valéria, sua mulher e “grande dama desse disco”.

E neste disco, Ivan Lins apresentava também uma banda afiada e afinada, chamada carinhosamente de “Famiglia”: Guilherme Dias Gomes (teclados e trompete), Heitor T. P. (guitarras), Mazinho Lima (baixo), Paulinho Braga (bateria) e Renato Franco (flauta e saxofone).

A base do disco era pop – e o repertório, imbatível. Abrindo e fechando o disco, Galeria Metrópole I (no lado A) e Galeria Metrópole II (no lado B), falavam sobre a Semana de Arte Moderna de 1922 e as manifestações culturais do Brasil, de lá para cá. Seguindo no contexto pop, Humana e A Tal eram recheadas de teclados, uma marca da década.

Na linha romântica, além de Vitoriosa, estavam Beijo infinito, uma linda balada de Ivan, Vitor e Heitor T.P., Luas de Pequim e Sede dos marujos – uma das mais belas composições de Ivan Lins, que embalava o romance de Cristiano Vilhena (Tony Ramos) e Simone Marques (Fernanda Torres) no remake de “Selva de Pedra”. O disco contava ainda com a toada Atrás poeira – regravada por Ivan Lins em 2012 no CD Amorágio, e Sonhos (Arrastão dos Pescadores), que a cantora Simone gravara em 1985 em seu LP Cristal.

Embalados por Vitoriosa e também pelo sucesso do disco, Ivan foi para a estrada, e a turnê foi registrada pela extinta Rede Manchete no especial Ivan Lins e a Famiglia, lançado também em formato VHS, chamado na época de Home Video (foto).

As boas vendagens do LP de ’86 renderam a Ivan um convite e o retorno à Polygram, em 1987. Nesta nova fase, Ivan Lins lançou mais três outros discos, a começar pelo LP Mãos, que trazia outros novos clássicos de sua carreira: Vieste e Iluminados. E o resto é história.

Produzido por Max Pierre e Ivan Lins, o disco também registrava mudanças no visual de Ivan Lins. A barba – ou o bigode – que o cantor e compositor utilizara desde o início de sua carreira, fora eliminada definitivamente. O figurino também passou por mudanças. Paletós e blazers de linho compunham um novo estilo, mais refinado, que era completado com um óculos de armação fina, super discreto.

Ivan Lins chegou ao formato CD em 1995, dentro da série “Cast”, da Som Livre, e relançado em 2000, com novo encarte.

Ouça Sede dos marujos:

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