Lulu Santos está de volta, trazendo em seu novo CD o que há de melhor em seu trabalho: ele mesmo, sem firulas ou experimentações. Em Letra & Música (Sony Music, preço médio: R$ 27) o autor volta a velha fórmula que o consagrou como hitmaker: letras fáceis e melodias dançantes, daquelas que tocam no rádio e grudam no ouvido – vide o passado de Casa (1986), O Último Romântico (1984) e Assim Caminha a Humanidade (1994), entre dezenas de outras canções espalhadas ao longo de seus vinte discos.

Depois de um MTV ao vivo (2004) e Bugalu (2003) – um CD que tinha praticamente as mesmas características do atual, porém extremamente mal aproveitado – Lulu Santos desfila pelas treze faixas do novo álbum o som pop que o consagrou. Abrindo os trabalhos, Gambiarra faz uma sátira sobre sucessos efêmeros: “Oi, tudo bem?! / Não sei se você está me reconhecendo mas / Já já lhe dou uma dica e eua ficha vai cair / Sou aquele… Aquele, que aparece na televisão / Sabe qual?… Não?!! / Eu sou o Dudu Sanchez, o Bibi Gomes / Eu sou o que todo mundo conhece mas não sabe bem quem é”.

Personagem recente de mais um dos inúmeros assaltos que acontecem diariamente no Rio de Janeiro, Lulu Santos faz seu protesto sobre as agruras de viver numa cidade bela e caótica, através de Zerodoisum: “Rio de Janeiro, te quero de corpo inteiro / De sol e ar, de onda quebrando devagar / Gente circulando, flerte no ar / Corpos livres, mentes querendo a vida melhorar… Rio de Janeiro, do medo e do desespero / De bala e dó / De morte estampada numa foto / Que corre o mundo e enche de dor e vergonha / Quem como eu por ela tem amor”.

Roleta é uma espécie de Tempos Modernos (1982) às avessas: “Hoje acordei duvidando / Que o futuro vai mesmo nos endireitar / Porque, no duro, tudo depende de hoje o que a gente faz… Viver é meio que nem loteria / A roleta vai girar”. Já Sinhá e eu narra as aventuras de uma excursão aos Estados Unidos feita por Lulu e Scarlet Moon em novembro de 2004, “desastrosa”, segundo ele, exceto pelo fato de estar acompanhado de sua mulher. É a “The ballad of John and Yoko versão 2004”, afirma.

Em meio às inéditas, Letra & Música tem duas regravações: Ele falava nisso todo dia, de Gilberto Gil, e Pop Star, sucesso de João Penca e seus Miquinhos Amestrados lançado em 1986. A gravação que, de tão incorporada ao universo pop de Lulu, acabou virando a música de trabalho. Pop Star é dos pontos altos do ótimo disco, que só peca em Bonobo Blues, uma espécie de historinha pra crianças do século XXI.

A bolacha prateada fecha com Circulando, faixa instrumental, do mesmo gênero de Mojo, que abria o excelente álbum Toda Forma de Amor, em 1988. Falando nisso, Letra & Música tem tudo pra ser um dos grandes lançamentos de 2005. Um prato cheio pra quem gosta de Lulu Santos: vale o investimento.

 

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