Há 31 anos é assim: chegou o Natal, e Roberto Carlos está na TV, na Rede Globo. Com exceção apenas de 1999, quando sua esposa Maria Rita faleceu vítima de um câncer, todos os anos RC desfila canções presentes na vida dos brasileiros nas últimas quatro décadas. É bem verdade que, há últimos anos, o formato não varia muito – e isto não é nenhuma novidade. Quer dizer, não variava.

E foi neste 2005 que Roberto Carlos, um neurastênico assumido, resolveu procurar ajuda. E os resultados do tratamento contra o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) estão ali, na TV, na frente de milhões de brasileiros, na noite de 21 de dezembro. O show é o mesmo: o espetáculo Pra Sempre, gravado em SP no Credicard Hall; o setlist é o mesmo, mas Roberto está mais solto, mais sorridente, rejuvenescido, sem ajuda de qualquer botox ou bisturi. Até a voz mudou: está menos arrastada, mais suave.

Vestindo um terno azul marinho (foto), como há décadas não se via, Roberto canta as mesmas Emoções (1981), Café da Manhã (1978), Ilegal, Imoral ou Engorda (1976), É proibido fumar (1963), Detalhes (1971), todas em arranjos menos burocráticos, mais descontraídos que nos últimos especiais.

Roberto e Claudia Leitte

Roberto recebe Claudia Leitte, vocalista do Babado Novo (foto), que canta Amor Perfeito (1986) em dueto com o eterno Rei, e brinca ao falar da emoção de estar ali com o astro maior da música popular brasileira, sonho dela desde criança – e de milhares de pessoas.

Ainda não foi desta vez que Roberto Carlos lançou um disco somente de canções inéditas (o último foi em 1996). Mas, deste novo CD (foto), lançado na última terça-feira 20, Roberto Carlos apresentou no especial a balada Loving You (1957), de Elvis Presley, e recebeu a dupla Chitãozinho e Xororó para cantar a guarânia Arrasta uma cadeira. No palco, com a orquestra ao fundo e três enormes telões, ele e os Meninos do Brasil – entoaram a canção que levou simplesmente 14 anos para ficar pronta.

Neste novo disco, Roberto Carlos resgatou do baú da Jovem Guarda duas canções compostas por ele e Erasmo Carlos que fizeram muito sucesso nos anos 60: Promessa (1967), gravada por Wanderley Cardoso, e A volta (1966), sucesso com Os Vips, que voltou às paradas como tema da novela América. Também tema de outra novela – Alma Gêmea – RC interpretou Índia, tendo ao fundo imagens da índia vivida por Priscila Fantin na trama de Walcyr Carrasco.

Mas o ponto alto do tradicional show de fim-de-ano ainda estava por vir. E é com a chegada de Jota Quest que é possível ver como Roberto está diferente neste especial: ao cantarem juntos Além do Horizonte, canção regravada pelo Jota Quest este ano e lançada por Roberto trinta anos atrás, os dois fazem um duo seguindo a mesma pegada rock que a banda mineira deu à canção de Roberto & Erasmo. E não é que ele, Roberto, acompanhou Flausino ali, no mesmo tom? (não é por nada não, mas de vez em quando é preciso lembrar que RC foi um dos precursores do rock no Brasil).

No fim, a tradicionalíssima distribuição de rosas vermelhas ao público ao som de Jesus Cristo, desta vez entoada por RC e seus convidados.

Você pode até não gostar de Roberto Carlos, achá-lo cafona, repetitivo, azulado demais, mas a sua obra é inegavelmente importante para a história da música popular brasileira. Deslizes (como aqueles cometidos ao compor e cantar bobagens, principalmente nos anos 90) fazem parte da carreira de qualquer artista. Mas RC está na vida de todos e, agora, tentando mudar. Sem transtornos. Pra sempre.

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